sábado, 5 de fevereiro de 2011

Primeiras linhas intermitentes

É de dar vergonha tanto amor. É latifúndio coronário, monocultura cardíaca – como um país inteiro plantado aos pés dela. O delírio repetindo igualzinho. Você me emociona. Parece feita de terra. Tudo é verdade começando por você, quando você se coloca na frente – como se a janela compreendesse a moldura e a paisagem, então, onde quer que você a coloque, terá sempre a mesma visão. Promete que entende tudo o que eu digo? E por detrás desse jeito de menina selvagem, mas menina, mas selvagem, vê-se o vulcão. Por isso ao seu lado faz calor. Por mim o mundo não vivia. O mundo pode espernear à vontade. Eu ainda vou fazer uma canção pra você. Vou apontar e te dizer, “olha que lindo!” e você vai sorrir pra mim, olhando nos meus olhos sem nem se importar com o que eu estou apontando. Você é a coisa mais bonita que eu já vi. Você e o mar, mas o mar é mulher e mulher só você. Essa frase é da nossa canção. Quero te ver feliz. Matar e morrer com você pra você por você. Em um dos nossos primeiros encontros te dei um livro. Queria te mostrar como é violento você existir. Meu olho dói quanto te vê. Pensei em comprar um machado, um guindaste, um viaduto. Vou te morder os dentes. Pensa em mim pra eu existir. Eu poderia passar o resto da vida acreditando em você e te dizendo “vai…”, “vai lá ver como é…”. Não comprei machado, nem bigorna ou trator, mas te dei o livro. Te dei o livro e escrevi no fim desse texto:
A MULHER E SEU PASSADO
Rubem Braga em A Traição das Elegantes 

 Penso bastante em tentar não ser o que querem que eu seja, desperdício de neurônios posso dizer de antemão. Mas ".... a gente espera do mundo e o mundo espera de nós."
Estranho é não ser estranho, estranho é duvidar de si mesmo. Normal é não saber descrever o amor. Até que às vezes eu penso que sei algo sobre alguma coisa, no fim, sempre vejo que sei menos que todos, que como eu, procuram respostas pra tudo o que acontece, e também pra tudo que não acontece, já que a vida não é feita só de realidade. Pelo menos, não a minha.
Volta e meia me pego debatendo comigo mesmo questões existenciais, estranho isso eu sei, e chego a mesma conclusão: não sou melhor nem pior do que ninguém, sou diferente e por isso não sou daqui. Metafisicamente falando, sou bom demais pra estar aqui, mesmo não sendo melhor que ninguém.


Promete entender tudo o que eu digo?